Sofro de uma séria patologia. Sou tarada; sim é isso mesmo. Tenho tara por revistas e afins, pode ser qualquer publicação, de qualquer ano, sobre qualquer assunto (tirando as de informática que só leio quando entro em síndrome de abstinência), mas enfim, ontem estava lendo uma revista ELLE, novinha mês de agosto, e folha vai folha vem me deparo com situações engraçadas, primeiro, a ordem agora (porque quando se trata de moda a palavra é ordem, foda-se seu corpo, seu biotipo, seu saldo bancário) é ordem, é tendência, é cool, saco, mas a ordem é, esqueça o visual femme fatale (????) e roupas justas o bacana agora é balonê, é aquele mesmo, dos anos 80, eu que fui criança nessa época lembro de uma saia jeans balonê que eu tinha e achava o máximo, é claro que agora é diferente, a tal da releitura sacou? Volume é isso que é pra usar, todo mundo metidos em saias e vestidos com rodados, godês, não, não importa se você tem 1,48metros e pesa 62 quilos A ORDEM É ESSA, POMBAS, ou você tem, uma no armário ou ta por fora (assim como essa expressão, ta por fora), afinal todo mundo gosta de moda. Não gosta?
Continuei a folhar a revista que me mostrou todas as tendências, inclusive me deu dicas incríveis de lugares, lojas, restaurantes que algumas “pessoas bacanas” vão, um lugarzinho incríiiiivel, um achado, que tem uma salada de queijo de cabra com figo, nossa um luxo, pequeninho sabe, tipo “ninguém descobriu ainda” e os ninguém somos nós, pessoas não tão modernas assim, pessoas que não ditam moda, nem são formadoras de opinião.
Não, não sou contra o mercado de luxo, muito pelo contrário, acho que ele está aí sim, que existe público pra isso e que realmente é legal, eu fiz faculdade de moda, adoro uma roupa boa, um jeans legal, uma sapatilha Prada, cortar meu cabelo com aquele cabeleireiro fabuloso que mesmo me cobrado três salários mínimos vai mudar minha vida, (sim, cabelo muda a vida, o humor a cara e até a forma de ver o mundo) conhecer bistrozinhos bacanas, com comidinhas deliciosas, garimpar revistas (meu ponto fraquíssimo e aonde vai boa parte do meu dinheiro) em bancas legais em Higienópolis, acho interessante saber onde se encontra o que é bom, estou longe, mas longe mesmo de achar o fim quem gasta 15 mil em uma bolsa, a bolsa é linda, você tem grana, compra mesmo, eu compraria, o que me incomoda é a ditadura, ou você vai lá, ou você usa volume no próximo verão, ou então tu ta por fora. Isso não é legal. Isso não é aceitável, quem tem corpo pra isso usa, quem tem grana pra ir nesses lugares vai, mas isso existe a possibilidade de ser legal e moderna, cult e interessante sem necessariamente cumprir essas ordens.
Mas quando comecei escrever isso aqui não era nada disso que queria falar, sei que folheando a revista, me deparei com uma matéria que foi a glória, enfim alguém me entendeu, alguém me deu razão. A matéria chama “QUE DOR QUE NADA” e começa com a sabia frase, “esqueça o velho conselho de que é preciso ser forte e agüentar firme. Houve uma reviravolta na abordagem desse sintoma. A tendência hoje é tratar logo e, sempre que possível prevenir”. Brilhante meu deus! Tem mais “Até pouco atrás ninguém dava real importância a dor... hoje os profissionais antenados não menosprezam esse sinal de alerta, que adquiriu o status de quinto sinal vital”.
Finalmente as pessoas chegaram a essa conclusão, que sem querer parecer arrogante, pra mim sempre foi óbvia, dor não é normal, sentir dor não é legal, o corpo ta reclamando, ta dizendo que tem alguma coisa errada, que você abusou, que pode ter algo sem funcionar direito, será que é tão difícil entender que sentir dor não é natural?
E, pra que agüentar, ser forte, qual o motivo da resistência em tomar remédios? Pra mim isso é um ranço natureba anos 70, que de saudável não tem nada, maconha é legal, analgésico não. Vão à merda, ok? Chás de cogumelo, ácidos lisérgicos, isso pode, mas uma porra de um opiáceo (a única substância capaz de aliviar as dores de um câncer, por exemplo), ou de um antidepressivo para aliviar dores psíquicas e tormentos mentais que às vezes param a vida de uma pessoa não pode. Convenhamos é no mínimo incoerente. Sim acredito que auto conhecimento, terapias, e o caralho ajudem que dores podem ter fundos emocionais, mas até pra isso existe remédio sabia? Os tais foram feitos para melhorar qualidade de vida, ou alguém imagina o que é uma dor de cabeça que pode durar dias, uma cólica menstrual tão forte que você mal consegue trabalhar, exercer funções simples dia a dia. Algumas pessoas param completamente de viver por causa de doenças mentais, que com médico e as drogas certas poderiam ser sanados.
Que fique claro isso não é uma ode ao uso indiscriminado de medicação, pra fim nenhum, é sim uma indignação. Antes até é uma questão. Qual o mal em tomar remédio quando se sente dor? Não colocar substâncias químicas no corpo, ok, então que também não bebam, não fumem, não comam alimentos com agrotóxicos, é pra testar os limites do corpo, até onde você é capaz de suportar uma dor?
O melhor mesmo seria termos uma vida, alimentação, e corpo tão saudáveis que dores não existiriam nunca, mas sabemos que não é assim que a banda toca, então...
Pra mim isso é ignorância uma ignorância meio masoquista. Ninguém precisa sentir dor, ninguém quer sentir dor.
Um viva aos analgésicos e aos meus antidepressivos que me fazem continuar aqui.