sábado, 20 de outubro de 2007

Preciso limpar a sala, nosso quarto
Principalmente o quarto
[Cheira outro]
Rápido
Tudo tem que estar desenxovalhado para quando você chegar
E aí
O próximo passo é chorar
Deitar
Me entregar
Me esfolar
Está tudo errado
E carrego comigo um peso colossal
babilônico
O de não saber amar
E durmo como um trabalhador braçal
Apesar de ter ficado o dia todo deitada
Tenho um cansaço culpado
Um cansaço regaço

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Se eu pudesse escolher um dom
Queria saber cantar
Ter um puta vozeirão
De negona de blues
Iria me enfiar em um vestido podre de justo
Lilás
De paetês
Usaria um batom vermelho borrado
E ia cantar na noite
Nuns botecos
Só pros malditos, pras fumaças e pras mesas vazias
Pros cornos exaustos
Ia entrar no camarim
Tremer,
Quebrar no espelho meu copo de gim
Procurar cigarros
Fumar as bitucas
Tomar calmantes e sair dirigindo insanamente
Um carro conversível
Mas eu ia ter um puta vozeirão
E um agente que me desse umas porradas
Que me fodesse a força
uma puta de uma voz fodida

Nada disso iria me importar
Eu queria saber cantar
Acho que seria feliz

domingo, 7 de outubro de 2007

A dor é pra quem sente
Quem vê de fora não imagina a merda que ela causa
As minhas dores são maiores que as suas
E causaram durante minha quase balzaquiana vida danos irreparáveis
Me vejo hoje paranoicamente machucada
E querendo que o mundo entenda minha e só minha dor

sábado, 6 de outubro de 2007

meu charme

É charme
É graça
É seu
É tarde
Pode ir



me afogarei na banheira

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

outrem

Aqui estamos de novo sozinhos. Tudo isto é tão lento, tão pesado, tão triste…Logo estarei velho. E então, chegará o fim. Veio tanta gente ao meu quarto. Deixaram tanta coisa e não me disseram nada. Foram embora. Envelheceram, coitados, vagarosamente, cada um no seu canto."


L.F. Céline,