terça-feira, 27 de outubro de 2009

4:47 - fractal


Caiu-lhe sobre a fronte a maldição geométrica da solidão que vivia os últimos dias
Quadrados de dor e angustias circulares lhe cobriam o corpo enlanguescente
Andava retangulamente dentro daquelas paredes cúbicas
Meias encardidas
As coisas ocupavam esferas erradas e tomavam formas maldispostas
Esfumaçados rosados
Se deu conta de que estava velha demais para aquilo tudo
Trancou-se no quarto do apartamento vazio
Olhou pela janela os seios da poluição fúcsia
pulou misturando-se definitivamente àqueles espirais presenteados
pousou neve,
nua e repleta

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

mesmo que podres


de quantas distorções são construídos um amor destruído
das respostas que não foram dadas e seguem transfiguradas de bagagem no coração de quem deixou
de quem ficou putrefando mágoas e culpas que não lhe cabem
um sem números de olhares que fixavam a mesma direção
quando os relógios paralisavam pela dor que escaldava os corpos feridos

ir embora quando ainda se ama é para fracos
te digo:
- é preciso morrer atado, colado, mesmo que estejamos podres

Foi quando a porta bateu doída.

ela tentou demonstrar uma falsa força
acendeu um cigarro iluminada pelo lilás das lágrimas
os primas daquele cristal quebrado

ele dobrou a esquina sem olhar para trás
mais forte que ela
eles sempre são

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

pimenta com café


E assim me peguei traquejando coisas da mesma maneira que tanto me definhavam quando você estava por cá
Dia desses exagerei na pimenta
Passei um café fraco
A televisão estacionada naquele incomodo volume quase baixo que irritantemente exigia de mim considerável esforço para escutá-la
Confesso que tentei te ligar,
Ansiava por teus olhos me fitando
Pelo morrinhar das nossas brigas
Lembrei-me com saudade da fúria desgovernada que lançou aquele cinzeiro e do retalho eternamente marcado no meu pé
Vejo você chegando, reclamando da bagunça, trazendo contigo aquela fome absurda e as risadas das bobeiras da vida
Escutei você questionando minha infelicidade
Ora se culpando
Na maioria me julgando insana
E quebrei dois copos lembrando de ti
Os versos repetidos soavam frescos
preciso rele-los
entender o descuido com o nosso amor
foram tantas certezas
E não era para sentir tanta saudade
Eu vejo beleza na cicatriz
pelo olho mágico percebo que não há ninguém no corredor
Aquela velha labirintite piorou, ando tropeçando nos buracos que você deixou,

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

gotejanto

Como se gotejasse, era assim que o sangue escorria, parecendo que existia pouco daquele soberano liquido dentro de si. Adelle trancou a porta, mas pela primeira para não voltar, deixara lá dentro não só mais da metade de seus pertences, mas toda lembrança daquela vida que dantes fora sua, apesar de ser sido roubada de outra que até os dias atuais chora e maldiz Adelle. não iria se consumir com isso agora. Era hora de partir, deixar o gás aberto e esperar; esperar explodir. iria comprar cervejas e cigarros, tinha desistido de parar de fumar, não era exatamente o momento adequado,

- fumarei para sempre, me assumo tabagista, sem culpa -

Aconchegar-se na pracinha em frente e assistir de lá o apartamento que trouxe tanta desgraça estourar. e com um pouco de sorte ele já terá voltado da viajem e irá pelos ares. Prédio sem zelador ninguém reclamará, nem terão como abrir se o cheiro escapar.
Parou e pensou, retorquiu-se por que tanto desejou aquela vida, por que raios quis irracivelmente ser senhora daquele homem, dona daquela casa. Tanta miséria, senhora dos infortúnios e o que lhe restou foram os braços cortados
Agora está sentada tomando cerveja quente e esperando aquela vida pipocar.

-Isso não é crime já que não tem ninguém lá, direi que me cortei e fui fazer um curativo, saí correndo em busca de socorro e o gás estava aberto, malditos apartamentos velhos com aquecimento a gás.

Desorientada por esses pensamentos não viu quando Birman saiu por aquele portão de ferro, carregando com ele somente as fotos de Adelle - fotos essas que ela fez questão de esquecer, escondidas dentro de uma velha caixa, se não queimassem tornar-se-iam banquete das traças e baratas que decidiriam fazer daquela caixa sua casa e comida – colocou-as cuidadosamente dentro do carro, vendo bombeiros tentarem salvar a velha moradia.

Adelle largou o resto da lata levantou-se e caminhou ate a estação do trem, jogou as chaves no lixão, pisou forte e rápido, a partir de agora Julliete.